É comum ouvirmos que a escola precisa preparar para a vida. No entanto, a prática em preparar para a vida exige mais do que transmitir conteúdos: precisa fazer sentido para quem aprende. Precisa provocar reflexão, gerar vínculos e transformar realidades. A isso damos o nome de aprendizagem significativa — quando o aluno compreende, aplica e dá novo sentido ao que aprende, conectando o conteúdo à sua realidade, ao seu cotidiano e ao mundo que o cerca.
Esse é o princípio que me orienta como professora universitária, pesquisadora, formadora de professores e gestora educacional. Com base em estudos científicos e observações de modelos educacionais de excelência no Brasil e no exterior, compreendo que ambientes de ensino com forte intencionalidade pedagógica, integrados à realidade do estudante e ancorados em metodologias ativas, produzem aprendizados mais sólidos, duradouros e aplicáveis.
A aprendizagem significativa, como proposta por David Ausubel, exige que o novo conteúdo se relacione com os conhecimentos prévios do aluno, mobilizando não apenas aspectos cognitivos, mas também afetivos, sociais e culturais. Em outras palavras, o que se aprende precisa fazer sentido para se tornar útil e, principalmente, memorável.
Essa concepção é visível quando colocamos os alunos no centro do processo de construção do conhecimento. Projetos que envolvem investigação, protagonismo, interdisciplinaridade e aplicação prática são mais eficazes na formação de sujeitos críticos, autônomos e colaborativos. Exemplos expressivos disso são as feiras científicas e culturais, que ao longo dos anos acompanhei em diversos contextos. Nelas, os estudantes assumem o papel de pesquisadores: formulam hipóteses, realizam experimentações, analisam dados, buscam soluções e apresentam resultados com clareza e consistência. O foco não está em repetir fórmulas prontas, mas em criar, experimentar e defender ideias com base em evidências.
Este princípio é aplicado para todas as áreas de conhecimento. Considero projetos de leitura como caminhos concretos para o letramento significativo. Atividades como clubes de leitura, oficinas, dramatizações e rodas de conversa permitem que o aluno desenvolva não apenas a competência linguística, mas também habilidades socioemocionais. Quando a literatura é tratada com intencionalidade e afeto, ela se transforma em uma aliada da empatia, da crítica e da imaginação.
O mesmo vale para o ensino superior. Em diversas universidades de referência internacional — como Harvard e Stanford (EUA), o Massachusetts Institute of Technology (MIT), a Universidade de Helsinque (Finlândia), entre outras — os currículos são desenhados com base em problemas reais como ponto de partida, com forte articulação entre ensino, pesquisa e extensão. Nesses contextos, as disciplinas não são tratadas como blocos estanques, mas como partes interligadas de um mesmo projeto de formação, onde o aluno aprende fazendo, interagindo e refletindo.
Essas instituições têm demonstrado que, ao invés de sobrecarregar os estudantes com volumes excessivos de conteúdo, é mais eficaz trabalhar com aprendizagens profundas e contextualizadas, em que o conteúdo se transforma em ferramenta para resolver situações do mundo real. Estudos de caso, projetos interdisciplinares, laboratórios de inovação e aprendizagem baseada em desafios são metodologias amplamente utilizadas e com resultados consistentes em diferentes áreas do conhecimento.
No Brasil, é cada vez mais urgente avançarmos em direção a uma educação que vá além da simples transmissão de informações. Seja no ensino fundamental, médio ou superior, a escola precisa se consolidar como um espaço onde o conhecimento ganhe vida, seja aplicado na solução de problemas reais e contribua para que o aluno compreenda seu papel como agente ativo em sua comunidade e no mundo.
Esse processo exige mais do que mudanças estruturais. Exige excelência profissional por parte de quem conduz o processo educacional: o professor. É fundamental reconhecer que nenhuma transformação pedagógica será efetiva sem a valorização do educador — tanto em sua formação continuada quanto em seu reconhecimento social. Formar para a complexidade do século XXI requer professores bem preparados, respeitados, atualizados e comprometidos. Planejar com propósito, ensinar com ciência, avaliar para além das notas, escutar com atenção e respeitar as singularidades dos alunos são atos que demandam formação sólida e constante.
Vivemos tempos marcados por transformações aceleradas — tecnológicas, ambientais, sociais. Nesse cenário, a educação precisa ser formadora de consciência crítica, capacidade analítica, resiliência e ação ética. Informação, hoje, está disponível em qualquer lugar, mas a sabedoria para usá-la com responsabilidade nasce em ambientes educacionais sérios, conduzidos por professores que, com excelência e compromisso, fazem a diferença todos os dias.
A aprendizagem significativa é, portanto, um caminho pedagógico que alia profundidade teórica, flexibilidade metodológica e compromisso humanista. Seu valor está justamente em tornar o aluno sujeito da própria formação — alguém que não apenas acumula conhecimento, mas que compreende, aplica e transforma.
Como educadora, sigo acreditando no poder do conhecimento que transforma. Em minhas aulas, projetos e formações, adoto uma abordagem que valoriza o protagonismo do estudante e a construção ativa do saber. É nesse cenário que vejo os olhos dos alunos brilharem, as perguntas se tornarem mais complexas e os erros ganharem novo significado como parte do processo formativo. A aprendizagem significativa não é um recurso complementar: é um eixo estruturante para quem compreende a educação como um campo de desenvolvimento intelectual e social. Acredito nesse caminho não por idealização, mas por evidência prática — é nesse processo que o saber se concretiza e ganha vida.
Por Dra. Aline Marchese Benedeti
Engenheira Agrônoma pela Universidade Estadual do Centro-Oeste, Mestre e Doutora pela Universidade Federal de Lavras, Pós-doutora pela University of Massachussetts, Docente do Magistério Superior da Universidade Federal do Paraná. Atual Diretora Pedagógica do Colégio CELQ – Amambai – MS.